quarta-feira, 14 de março de 2012

Expátria amada

Conheço e vou conhecendo vários expatriados. Alias… conheço várias pessoas que não sendo angolanas, escolhem Angola, principalmente Luanda, para viver. Pelas mais variadas razões. Eu própria o fiz, nada contra. O que realmente me levanta sérias reservas é a condicionante do “expatriatismo”. Em Angola há três tipos de estrangeiros, os ilegais, os legais “normais” e os legais expatriados. E dentro dos expatriados há os que só são estrangeiros e os que também são angolanos.

Os expatriados “normais” são os que sendo estrangeiros vêm para Angola com visto de turismo ou trabalho e vão saindo e entrando no país para regularizar a sua situação. Os Expatriados angolanos são aqueles que apesar de possuírem também a nacionalidade local, preferem valer-se da estrangeira para exigir certas regalias negadas aos demais.

Não acho errado haver estrangeiros em Angola, seria no mínimo estranho, na minha condição, esse pensamento. Na verdade acredito que países que sabem lidar bem com as questões migratórias costumam extrair bons dividendos delas. Até porque outras culturas sempre nos trazem novas formas de ver o mundo e novas maneiras de agir perante ele. Se conseguirmos absorver só as coisas boas, tanto melhor.

O que eu realmente acho pouco certo é essa coisa do expatriado. Quando se vai ver o significado da palavra, quase todos os dicionários apontam sinónimos como degredado, desterrado, exilado, proscrito, deportado ou banido. Hora, todos estes substantivos são meio depreciativos e fazem pensar numa viagem forçada, realizada a contra-gosto. Desterro sugere a minha memória, criminosos a serem enviados da metrópole para a colónia como forma de castigo.

Bem, se as viagens são forçadas, não se nota! Os expatriados que eu conheço nacionais e internacionais, pretos, brancos, verdes ou amarelos, têm todos uma coisa em comum, estão cá por vontade muito própria! E fora uma ou outra reclamação ingrata quanto ao calor, ao trânsito e as gasosas, estão felizes. Recebem, na maioria das vezes, salários entre o alto e o astronómico, não pagam casa, têm transporte e direito há pelo menos duas viagens por ano.

Contava-me uma amiga expatriada há dias que tinha pena de uma colega que era nacional. Ela, expatriada estrangeira, tinha carro atribuído pela empresa e mesmo assim, se chegasse meia hora atrasada, que ninguém lhe dizia uma palavra sobre o assunto. De qualquer forma sempre podia alegar que fora culpa do engarrafamento infernal da cidade. Resultava sempre.

Com a colega nacional a coisa era outra, além de não receber lá grandes coisas no fim do mês, ainda era severamente censurada se chegasse atrasada. Com pena da colega nacional, a amiga expatriada lá se decidiu a dar-lhe boleia, já que a outra vivia na sua rota para o trabalho. Ewê! Makongo! A outra quase foi demitida e proibiram-na, isso mesmo, proibiram-na de apanhar boleia outra vez com qualquer expatriado, para que não se atrasasse!

A minha amiga sentiu-se muito triste, claro está. Agora ter que deixar a moça amanhar-se com os dois ou três táxis necessários para chegar ao trabalho fazia-lhe realmente muita pena. E ponto, acabou aqui a história. Qual falar com os patrões e chamar-lhes a razão? Qual acordar um bocado mais cedo para poder dar boleia a moça. Nada. Mas que fique claro que ela sentiu muito.

O que me deixa mesmo lixada nessa coisa do expatriatismo, sim porque já se tornou uma teoria, uma ciência! Dizia eu, o que me irrita realmente nessa coisa toda, é essa de virem, com todas as regalias e vantagens possíveis e não darem nada em troca. E digo nada, porque deixar o trabalho feito não leva a nada. Se não transmitem o seu “know-how”, fica-se sempre a depender deles.

Se há uma coisa que o expatriado, na maior parte do caso tem fobia, é em passar conhecimento. Alegam de tudo, que as pessoas não aprendem, que não vale a pena, só eles dominam a coisa, mas a verdade é que não passam o tal saber. A história de em vez de dar peixes, ensinar a pescar, aqui não tem lugar. Os locais só servem para serem mandados.

Outrora andavam aí a cantar a pátria amada e a fazer contas aos dias que faltavam para o regresso, hoje as contas continuam mas as músicas, essas vão para a expatria amada…


NJ 212

Um comentário:

ricardo bordalo disse...

‎Aoaní d'Alva, sabes, na minha humilde abordagem a este problema, que reconheço ser um problema, onde erras? é que as generalizações matam toda a razão. nos quase quatro anos que passei em angola conheci uma furgoneta de "expatriados" (a de...signação é foleira e um disparate, claro...) que não só se empenhavam em passar o tal saber como não desistiam até o conseguir mesmo que, como é natural em alguns casos, isso não fosse fácil... o inverso também é verdade... mas, caramba, imbecis há em todo o lado... enfim, o que me incanita são mesmo as generalizações... fragilizam quaisquer que sejam as teses! kandandos menina!