terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Mordaça de Patrice

São Tomé e Príncipe tem andado em polvorosa desde que foi noticiado pelo Téla Non, um portal de notícias daquele país, que a jornalista e poeta São de Deus Lima teria sido censurada. A jornalista afirmou que foi impedida pelo director da TVS, a televisão pública das ilhas, de realizar uma entrevista ao antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, Carlos Veiga.
Segundo o que relatou na sua crônica “escrever na areia”, no site Tela Non, a jornalista só foi informada de que deveria cancelar a entrevista quando Faltava menos de uma hora para começar o dito encontro. Segundo o director, Oscar Medeiros, as ordens foram superiores. Ainda nas palavras da poeta, no dia seguinte ao cancelamento da entrevista, foi chamada ao gabinete do director, onde esse a informou de que o seu contrato com término previsto para o dia 31 de dezembro, não seria renovado.
A situação de flagrante censura criada pelo governo ressabiou a opinião publica do país, com o facto sendo noticiado em vários órgãos de comunicação internacional. O governo que não se pronunciou junto aos órgãos de comunicação, fez circular através do site do seu partido - ADI, uma nota de imprensa. Nessa nota, o partido acusa entre outras coisas, São Lima de ser assessora do Governo e de estar a trabalhar contra o mesmo e deter agido de ma fé e com má educação com o entrevistado e com o director daquele canal televisivo.
Segundo a nota do governo, a entrevista havia sido cancelada com antecedência mas, “a jornalista não comunicou esta ideia ao candidato, deixou que o Dr. Veiga chegasse à TVS minutos antes do início do Programa em Directo e levou-o ao Gabinete do Director da TVS e disse-lhe: “Aqui está o Dr. Carlos Veiga e o Senhor Director faça dele o que quiser”. E bateu a porta e foi-se.”
Em declarações, a jornalista e poetiza são-tomense revelou-se chocada com a missiva do governo da sua terra natal. E garantiu que várias pessoas presenciaram o facto e podem confirmar que a sua versão dos factos é a verdadeira. São Deus Lima relembrou a época do partido único e garantiu que acredita que dias melhores chegarão ao pequeno arquipélago.
Sobre a questão relativa a assessoria do governo, esclareceu pelo portal Tela Non, que de facto foi convidada para o posto pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada, e a sua resposta “ foi clara e inequivocamente negativa, por razões óbvias”.
A figura mais destacada do jornalismo são-tomense, São Deus Lima foi por cerca de vinte anos jornalista da BBc, onde foi responsável pelo conteúdo em português. A poetiza é estudou Comunicação Social em Portugal e é também formada em Estudos Afro-portugueses e Brasileiros pelo king´s College de Londres e mestre em estudos Africanos com espacialização em Governos e Políticas em África, pela School of Oriental and African Studies de Londres. O programa “Em Directo”, criado e apresentado pela jornalista, é um programa que promove o debate e a informação pública e tornou-se em pouco tempo líder de audiência do canal público são-tomense.

Abaixo assinado
Solidarizando-se com a compatriota e colega das lides literárias, Inocência Mata, escritora e professora universitária em Portugal, pôs a circular um abaixo-assinado contra a suspensão da jornalista e do programa “Em directo”, que a mesma comandava. Além da iniciativa da catedrática, outra iniciativas do mesmo gênero se vão desenvolvendo principalmente no meio cibernético, com debates acesos e abaixo-assinados eletrônicos, promovidos por são-tomenses e não só.

O comando recém-formado de Patríce Trovoada, que durante a campanha afirmou que seria um “governo de mudança”, enfrenta agora a sua primeira crise. Apesar das tentativas de se contactar o Governo são-tomense, tal não se revelou possível.

Aoaní d’Alva

sábado, 11 de dezembro de 2010

Assinaturas no abaixo-assinado (# 7729): Liberdade de Imprensa em S. Tomé e Príncipe - Abaixo Assinado.Org

Minha querida prima Apolinária.
Dessa vez escrevo eu, por um motivo triste. Atropelaram a Mãe. Ela continua viva é claro, como sabe ela é forte, já sofreu outros acidentes e resistiu. Não há-de ser esse que a vai tirar de nós. Ela não pediu que lhe escrevesse, prima, essa liberdade tomei-a eu, criança “esperteza” que sempre fui. Tomei-a eu, ainda meio em choque com o acidente que quase vitimou a minha mãe querida. E ao contrário do que é costume, prima, o infractor não fugiu! Mas também não a socorreu, ficou a vê-la receber o embate e digerir o choque.
É uma coisa que começou a entrar na moda aqui na nossa terra, prima. Dois por três atropelam pessoa e coisa fica assim, ninguém fala, ninguém ouve falar. Minha mãe, como a prima sabe, fala! Fala o que vê, o que não vê mas sente e o que outros sentindo lhe contam. Para mal dos pecados dela, prima Apolinária, a minha mãe Fala. E há umas duas/três pessoas que não podem com essa coisa! Eles andam aí, como quem não quer a coisa, sorriem só com os dentes mas com os olhos frios, oferecem apoio, mostram-se solícitos, vão olhando para a Mãe pela ponta do olho.
Ela olha para eles também, prima, mas de frente. Minha mãe, como diziam os portugueses quando vive lá e com o perdão da palavra, é lixada! Se ela não tem medo? Deve ter prima, mas eu digo-lhe que se tem, nunca mo disse. Eu sei que assim como é para mim, ela é para muitos um exemplo de coragem. Então hoje eles cansaram-se de só ver e resolveram agir. Um deles, cara lavrada, veio com camião e passou em cima do carro da minha mãe, com ela lá dentro.
Prima deve estar a pensar, “kei, como São Tomé está violento assim é?”. Coisa está tão esquisita prima que eles fizeram esse estardalhaço todo mas não derramaram sangue. Como eu disse, a minha mãe é lixada! Ela se não lhe escreve hoje prima, é porque está meio abalada, mas ferida não. Os olhos continuam a ver, as mãos a escrever e pior que tudo prima, a mãe continua a falar! E eu vou terminar de escrever prima, vou ver como é que a mãe está, ela deve precisar de alguém com quem conversar.
Ah! É verdade, a mãe disse que a prima estava a pensar em voltar para a terra. Volte sim prima, mas volte com cuidado. Principalmente se for falar, muito cuidado ao atravessar a rua. “Eles andam aí”.



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Texto escrito para mostrar a minha profunda insatisfação e desilusão com os acontecimentos que se têm desenrolado em São Tomé e Príncipe. Censura não é crime na nossa legislação? Alias, nós temos legislação? É que as coisas passam-se de maneira tão arbitrária as vezes que essa pergunta levanta-se. Que regras nos regem? E somos mesmo TODOS iguais perante estas leis? São Deus Lima é mais um exemplo da flagrante desgovernação do nosso país. Esta aberto o abaixo-assinado para que a TVS renove o contrato de São Deus Lima e o programa "EM DIRECTO" não saia da grelha!
Texto: Aoaní d’Alva


Assinaturas no abaixo-assinado (# 7729): Liberdade de Imprensa em S. Tomé e Príncipe - Abaixo Assinado.Org