terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Mania de imitar...


“Em França morrem 12 pessoas, todo o mundo chora. Na Nigéria morrem 2000 pessoas, ninguém se importa”. Mas esse espírito de gado vão buscar aonde? Porque é que têm que seguir alguém? Porque é que o mundo todo tem que se importar com os nigerianos que morreram? Porque é que temos que esperar que o mundo todo se importe para nos importarmos? Eu não sou Charlie e também não sou “todo o mundo”. Sou africana e é como africana falo.

Temos, sim - nós africanos, que parar com essa mania de mendigar. Mendigar atenção de uma Europa e de uma América que haja o que “hajar”, com crise ou sem crise, precisando ou não de nos invadir para ganhar o seu, está sempre em cima. Temos que parar de mendigar dinheiro e passar a gerir melhor o que temos, porque nós temos muito. O que não temos de petróleo, temos de diamantes, de ouro, prata e o que mais houver de minério.

E quando não há recursos naturais não renováveis, há os renováveis ou sustentáveis. O turismo é um exemplo. Quem não tem verde tem castanho, tem amarelo, alguma coisa tem. O que falta é investir a sério no maior capital que continente pode ter: capital humano. Todos os anos temos pessoas capacitadas deixando o continente e indo trabalhar (muitas vezes fora da sua área de formação) noutros continentes. Porquê? Porque nós não temos o básico: educação, saúde e segurança. Porque nós preferimos embolsar, desviar, extraviar as verbas que seriam investidas nessas áreas.

De resto, ficamos sentados a espera que nos venham dizer o que é melhor fazer com o pouco que temos e o muito que nos dão (emprestado). Porque mesmo quando apregoam que é oferta, a "tal filantropia", como cantou Paulo Flores, traz sempre uma conta que será cobrada em algum momento. “Não há almoços grátis”, costumavam dizer os estudantes de administração na faculdade. Eles estavam certos.

Entramos numa inércia tal que qualquer dia desses têm que nos vir dar banho. Ah, não. Banho, ainda conseguimos tomar… Banho de sangue.  Andamos a matar-nos uns aos outros em nome de um ser superior, um bem maior… Mas eu pergunto, se não conseguimos amar e respeitar um ser semelhante a nós, onde vamos buscar capacidade para amar e respeitar o ser imaterial e etéreo que andamos a apregoar, com o nome que lhe quisermos dar?

Nós devemos estar solidários com a dor da Nigéria porque a sentimos, como africanos que somos, não porque meio mundo se solidarizou com a França, o Charlie e etc. Deixemo-nos de imitações, de comparações e de reacções. Não devemos esperar que os outros façam primeiro para depois agirmos em conformidade (gosto bwé dessa expressão, é tão “oficial”). O que tem que mudar não é o resto do mundo em relação a nós, nós africanos é que temos que deixar de ser reactivos para passarmos a ser activos.

A tal independência pela qual muitos morreram não era para ser teórica, era para ser prática. Pratiquemo-la então. Sem esperar linhas mestras, sem imitar, façamos o nosso, criemos.
 

Bob Marley bazou mas deixou instruções:
"Emancipate yourselves Form mental slavery
None but ourselves can free our minds"
 
 


 

 

 

Um comentário:

Francey Zeute disse...

Ola, amiga Aoani. Tudo bem com você? Eu estou optimo. Espero que estejas super bem. Entretanto, não me contive a escrever algum comentário ao teu texto, ate porque a dias, após o incidente macabro sucedido no Quênia, escrevi no facebook algo aproximado a esta reflexão que nos propões, isto porque todas as linhas são no sentido de que ninguém faz nada para por cobro a isto, como se alguém externo coubesse esta responsabilidade. Abaixo seguem algumas linhas do que eu colocava como meu entendimento a respeito:

"PARECE QUE AINDA NÃO PERCEBEMOS QUE [NINGUÉM VIRÁ TOMAR AS NOSSAS DORES]”

Afinal a quem e de forma insistente temos estado a perguntar ou queremos que faça alguma coisa relativamente ao incidente macabro que vitimou as 148 crianças/jovens no Quênia?

Quem e porque mobilizou o mundo a quando do incidente que vitimou os 12 jornalistas do satírico jornal francês Charlie Hebdo? Alguém foi a Paris e lhes disse para se organizarem e mobilizarem o mundo a se indignar, a protestar contra aquele macabro incidente e terrorismo no geral?

QUANDO O SAPATO APERTAR MESMO, VAMOS DESCALÇÁ-LO ... Enquanto isso, vamo-nos entretendo com estas questões sobre de quem é o papel de se indignar e organizar reuniões e ou protestos contra incidentes do gênero quando acontecem nos nossos países e no continente africano no geral, enquanto isso, vamos alterando perfis de facebooks, de watsups etc etc... Andamos avidamente atentos e preocupados a imitar que nos esquecemos que os nossos problemas a nos cabe única e exclusivamente a tarefa de os resolver......................... Aoani, espero que o teu sempre bom humor não tenha/seja afectado por estas coisas meio que "patéticas" como diria a minha falecida mãe, "AINDA NÃO AMANHECEU, QUANDO AMANHECER,A FORMA DE SER E ESTAR SERÁ OUTRA" ....Bjx