quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

É boato!

Como chefe de contabilidade, Filipe chegou ao trabalho pontualmente as 8 horas. fez tudo o que sempre fazia, verificou os email, participou da reunião de chefes de secção, as 10 ligou a mãe, e ao meio dia e 45 foi almoçar. Ele era assim, programado ao mais pequeno pormenor. não chegava atrasado a lugar nenhum, e quando acontecesse algum imprevisto, tratava de avisar com urgência as pessoas que pudessem estar a sua espera.
Educado ao extremo, e completamente reservado na sua vida pessoal, Filipe sempre foi alvo de curiosidade
por parte dos colegas. Sempre houve, principalmente por parte das senhoras muito interesse por escrutinar o Filipe além do trabalho. todas as tentativas no entanto foram falhas. Nos quase três ano em que trabalhava na firma, nunca tinha saído com nenhuma das moças que tão abertamente se a tiravam em seus braços, e podia-se contar pelos dedos de uma só mão as vezes em que tinha ido beber um copo com os "rapazes".
Todo esse secretismo em vez de afastar os curiosos só os fazia crescer mais em torno de Filipe. No inicio do segundo ano de trabalho começaram a surgir boatos de que ele era gay. Alguém da empresa que tinha um amigo que conhecia alguém que tinha um primo que conhecia o suposto namorado do chefe da contabilidade, fez circular a "notícia". Uma semana depois já se falava na possibilidade dele ter contraído a sida.
Dois meses depois de começar o falatório, Filipe foi chamado pela direcção da empresa para que esclarecesse as duvidas que se levantavam. Ultrajado recusou-se a responder ao que lhe parecia um abuso de poder. Questionou a autoridade dos chefes sobre a sua vida privada acusando-os de intromissão, e asseverou que caso fizessem mesmo questão de invadir a sua privacidade, poria o seu cargo a disposição de outrem.
E foi o acender do rastilho para o barril de pólvora. No mês seguinte toda a cidade "sabia" que Filipe era gay e que definitivamente tinha sida, porque só os gays possuíam essa doença. Enquanto se discutia em praça pública a sua vida, Filipe travava na sua intimidade outra batalha. A mãe fora despedida por causa da fofoca, Rachel, jovem extremamente religiosa, moradora de uma cidade vizinha com quem esperava casar, também ouvira os dumores e rompera o namoro secreto que vinham mantendo a mais de 3 anos.
Para completar o quadro, surgiu o boato de que o jovem vinha desviando verbas da empresa para uma conta num paraíso fiscal. Foi suspenso das suas funções para que se averiguasse a procedência das informações.Então Filipe sentiu o mundo desmoronar em cima da sua cabeça, teve um esgotamento nevoso e entrou em surto psicológico. Hoje está internado no hospital psiquiátrico da cidade, nunca mais voltou a si.
Os boatos, as fofocas, os rumores e os mexericos pertencem todos a mesma categoria: noticia sem fundamento, veiculada publicamente com o principal objectivo de causar dano de algum tipo, quanto mais não seja, chamuscar de leve a reputação de alguém.
Ora, depois de saber que há pessoas como o ex-ministro da agricultura japonês,Toshikatsu Matsuoka, que não aguentam a vergonha e o ultraje que essas acusações acalentam para si e para os seus e acabam por tirar a própria vida, temos que concordar que as vezes esses rumores fazem mais do que chamuscar de leve, eles chegam a queimar por completo uma vida.

Nenhum comentário: