Pensei. Pensei bastante. No fim acabei por desistir. Era a quinta vez que eu ali estava, parada no terraço mais alto da casa. Como sempre desisti covardemente, recolhi-me a minha insignificância. Pela quinta vez tentei por fim a esse calvário, a esse vazio que chamam de vida. E novamente voltei para a mim, para mergulhar no desespero de ser um zero a esquerda, um nada.
Porquê ou para quê continuar a viver? Para ver meu mundo desabar toda a vez que o meu pai é internado numa clinica de desintoxicação e reabilitação para viciados em cocaína? Ou para ver a minha mãe deitar-se pelos cantos da casa com o jardineiro ou com os seguranças?
Ontem o amigo do meu pai me ofereceu maconha, disse que era melhor eu começar com algo leve. O motorista passou a mão na minha perna e comentou que eu já tava em tempo de requerer serviço completo. Mal vi minha mãe, era dia de conferir a criadagem. Curioso que até o cozinheiro aqui é homem, não há mais mulheres na casa sem sermos eu e a mãe.
Hoje estou decidida. Já deu, não quero mais ter que ver essas coisas acontecerem na minha vida. Desde os 13 anos que venho fugindo dos empregados da minha casa. Quatro anos em que não pude dormir nenhum dia sem a porta trancada. Quatro anos tentando manter a salvo o que a minha mãe chama de “ membranazinha inútil”.
Ao contrário das outras vezes, não vou mais tentar atirar-me do terraço. Já sei que tenho medo de altura. Hoje vou-me trancar casa de banho do meu quarto e vou cortar os pulsos. Já roubei uma das facas de 150 dólares da cozinha. Ninguém sentirá falta dela, a não ser Jean Pierre, o cozinheiro francês. Daqui a cinco dias alguém vai se lembrar de me procurar, aí então eu já terei partido.
Cortei o pulso esquerdo. Doeu, mas foi uma dor boa. Cada vez sai mais sangue, e cada vez mais me sinto melhor. Descobri que não tenho tanto medo assim de sangue. Essas são as últimas palavras que escrevo, vou cortar o pulso direito. Espero que o céu seja tão bonito como as imagens que vi na capela Sistina, quando visitamos o Vaticano no ano passado.
Esse texto é fictício, mas podia ser real… vamos dar mais atenção aos filhos sobrinhos e irmãos. Dinheiro não é suficiente se não houver limites, princípios sólidos, ética e moral.
foto: internet
Um comentário:
éh mana, quase pensei q fosse caso de policia...rsrsrsr...já está na hora de começar a escrever o livro sobre um suposto L.U.L.A." A vida do meu irmão"
Postar um comentário